Centro de Memória do Circo: um lugar para vivenciar a magia
Localizada no Centro Cultural Olido, a instituição resgata a história do circo e promove diversos espetáculos
Por Agência Fática em 30/07/2018
E se houvesse um lugar que te permitisse vivenciar toda a magia do circo 365 dias por ano? Pois este espaço existe, funciona desde 2009 e está no centro de São Paulo, em pleno Largo do Paissandu. É o Centro de Memória do Circo, instituição cuja missão é manter viva a história desta arte.
O local escolhido não poderia ser mais apropriado. “O largo foi uma espécie de pátio do circo, recebendo as principais lonas entre o fim do século 19 e o começo do 20. O primeiro documento atestando a presença do circo na região é de 1887, com uma temporada da trupe dos Irmãos Carlo. Mas, ao longo da década de 1920, houve uma alternância entre os grupos Queirolo e o Alcebíades, onde consagrou-se o palhaço Piolin”, explica Verônica Tamaoki, coordenadora da instituição.
Mas o que marcou essa região foi o Café dos Artistas, encontro que acontecia – talvez ainda aconteça – todas as segundas ao redor do Largo do Paissandu. Circenses do Brasil inteiro formavam uma roda e trocavam contratos e notícias.
Ocupando algumas salas do Centro Cultural Olido, o Centro de Memória do Circo mantém um museu e recebe espetáculos gratuitos dos grupos mais tradicionais do país. O local desenvolve um trabalho pioneiro ao coletar e preservar itens que formam um acervo inédito.“Os circenses têm o hábito de registrar sua história, guardando objetos, roupas e escrevendo diários. Nosso trabalho começa por aí: receber esse material e cataloga-lo”, diz Verônica.
Preservação da memória
Quem vai ao museu é automaticamente transportado para outro universo. Logo na entrada, há uma maquete de um circo feita pelo Mestre Maranhão (1923-2012). Ele foi acrobata, trapezista e funâmbulo (profissional que caminha e faz acrobacias sobre uma corda de aço), dono dos circos Europeu e Evans, além de professor da Escola Picadeiro e do Projeto Enturmando.
Nesse espaço, também são apresentadas todas as artes que compõem a linguagem circense. Há painéis explicativos sobre os aéreos, as acrobacias, o equilibrismo, o malabarismo, o ilusionismo, a teatralidade e tantas outras performances que podem integrar um espetáculo de circo.
O público ainda encontra uma linha do tempo sobre a história do circo no Brasil e uma série de objetos e fotos. Há, por exemplo, os sapatos do mágico Dossel, que, segundo a coordenadora, tinham sempre a sola engraxada, “porque um artista não pode mostrar a sola suja para o público”.
Entre os itens memoráveis, também estão o cinturão confeccionado em 1968 para a trapezista Joanita Pereira, considerada a mulher com a cintura mais fina do mundo; a bicicleta miniatura (22,3 X 29,5 X 9,5 cm) do palhaço Figurinha (Nelson Garcia); os trajes do palhaço Piolin (Abelarto Pinto); o terno do mágico Tihany, fundador do Circo Tihany; a casaca de Marlene Querubim, fundadora e diretora do Circo Espacial e muito mais.
As fotos auxiliam no resgate dessa memória. Estão retratadas as mais importantes famílias ligadas ao circo, bem como os seus principais artistas. “Os cantores populares, os primeiros a gravarem discos, nasceram no circo. O palhaço Carequinha, por exemplo, foi o primeiro cantor profissional do Brasil”, revela a coordenadora. Outras personalidades como o Oscarito, o Arrelia e a Carola Harcia, conhecida como a Luz del fuego belga, também ganham destaque no Centro de Memória do Circo.
O nascimento de um sonho
Tudo começou com uma paixão. Verônica Tamaoki se encantou pelo circo e decidiu graduar-se em artes circenses em 1982 pela primeira escola de circo do Brasil, a Academia Piolin de Artes Circenses, apresentando-se como equilibrista e malabarista em diversos eventos.
Em seus estudos, aproximou-se de Roger Avanzi, conhecido como palhaço Picolino II, e juntos publicaram o livro “Circo Nerino”, em 2004. “Quando a obra saiu, o Circo Garcia tinha acabado de fechar as portas e eu havia conseguido reunir na minha casa objetos e documentos de dois dos mais importantes circos do país”, lembra. Este material é o ponto de partida para a criação do Centro de Memória do Circo.
“Ao longo desses anos, juntamos 80 mil documentos, por isso, estamos encontrando a melhor forma de classificar, orientar e guardar tudo isto. Para ajudar nessa tarefa, criamos o programa Sou de Circo e recrutamos oito jovens envolvidos com artes circenses para nos ajudar”, conta.
Apesar de tanto avanço, o trabalho de resgate histórico ainda está no começo. “Sinto que montamos uma coisa que exige mais 50 anos de trabalho. O Sou de Circo também está tentando correr contra o tempo e ajeitar esse acervo para que outras gerações possam dar continuidade ao trabalho. É preciso aproveitar também o que existe de memória oral”, revela.