Circo: fundamental para crianças

Seja em uma pequena lona ou em um grandioso palco, a arte circense deve fazer parte do repertório infantil
por Simone Tinti em CRESCER

Palhaços, malabaristas, acrobatas, mágicos, equilibristas, contorcionistas: não importa se em um palco grandioso ou debaixo de uma velha lona colorida, esses personagens traduzem a magia do circo para crianças e adultos.

Para Alex Marinho, diretor do Galpão do Circo, núcleo voltado ao ensino, à pesquisa e ao desenvolvimento pedagógico das artes circenses, o circo deve fazer parte da formação infantil assim como a dança ou o teatro. “O espetáculo acontece ao vivo, sem efeitos especiais, e tem a capacidade de mexer com as emoções. A comicidade, que é uma das características do circo, é provocada principalmente pelo palhaço, que mostra o quanto é gostoso rir”, diz. Para Rosana Jardim, diretora do Circo Spacial, assistir a um espetáculo de circo ainda tem uma outra característica, que é trabalhar com a fantasia das crianças. “Uma apresentação de circo sempre tem um caráter lúdico e acaba estimulando a imaginação”, diz.

Hugo Possolo, dramaturgo, diretor e palhaço do grupo Parlapatões e do Circo Roda Brasil, afirma que o circo é um tipo de arte cênica menos sofisticado do que o teatro e por isso, mais acessível. “Não é preciso ter referência para assistir a um espetáculo circense. O circo é universal e envolve o público facilmente”, diz. Ele explica que essa arte trabalha com um antagonismo entre altos e baixos, que é justamente o que atrai e emociona em um espetáculo de circo. “Em uma mesma apresentação você vê o desafio à gravidade, com os saltos dos acrobatas, e os tombos do palhaço, que é a figura que sintetiza os erros humanos e provoca o riso”, explica Possolo. Ou seja, o encantamento está no momento em que o trapezista dá um salto e parece que vai cair, nos movimentos dos acrobatas, ou simplesmente quando o mágico tira um objeto de sua cartola e o palhaço tropeça no picadeiro. E o espetáculo é para a família inteira. “Mesmo que a criança não entenda o enredo de determinada história, ela vai prestar atenção aos movimentos, às figuras e às cores do picadeiro”, diz Marinho.

Escolas de circo

Nos anos 50, o circo era uma das principais formas de entretenimento para crianças e adultos. No entanto, ele sempre foi considerado uma arte “marginal” – até hoje, apesar de existirem grandiosas companhias (como o Cirque du Soleil), ainda há uma série de circos pequenos e familiares que, mesmo em meio a dificuldades financeiras, sobrevivem e atraem muitas crianças.

Inicialmente, os conhecimentos circenses eram transmitidos entre as famílias, até que nos anos 80, as escolas de circo começam a surgir e provocam a expansão dessa arte. Como explica Possolo, esse movimento começou na antiga União Soviética e logo se expandiu para outros países ocidentais.

No Brasil, a primeira escola de circo foi a Piolin, que surgiu em fins dos anos 70. Hoje em dia, há uma série de cursos extensivos e oficinas espalhados por todo o país (veja mais na próxima página). E quais são os benefícios da prática circense para crianças? “A aula de circo não exclui nenhuma criança. Tanto os gordinhos quanto os muito magrinhos podem fazer. Cada um vai ter um papel a cumprir”, explica Marinho. E, diferentemente de esportes como futebol ou vôlei, por exemplo, a atividade circense não estimula a competição. “Além de trabalhar com os exercícios físicos, montamos um roteiro para o espetáculo e trabalhamos elementos como o figurino, o palco e a iluminação”, diz Marinho.

Além do lado artístico, a aula de circo também tem um aspecto educativo. “As atividades estimulam o trabalho em equipe e ajudam a lidar com o medo”, diz Rosana Jardim, diretora do Circo Spacial. Para Possolo, as aulas ajudam até mesmo a formar cidadãos melhores. “As crianças trabalham a superação de si mesmas o tempo todo”, diz.